O QUE É TEATRO FÍSICO?
Victor de Seixas, desde 1994 desenvolve pesquisa sobre teatro físico e dança, se especializou em Mímica Corporal Dramática na International School of Corporeal Mime (Londres), Já atuou e dirigiu em diversos países e hoje desenvolve o Projeto Mímicas, na cidade de São Paulo.
Teatro Físico não é um termo claro e é passível de muitas diferentes interpretações. Analisando as origens e a sua aplicação no momento histórico, abrimos uma questão de como se definir o que seria teatro físico nos dias de hoje no Brasil, trinta anos após sua primeira utilização mudamos os paradigmas de nossa sociedade e o teatro contemporâneo já absorveu alguns de seus elementos , o que podemos chamar de teatro físico nos dias de hoje e ainda é necessário usar esse termo?
Teatro físico é um termo vago e passível de diferentes interpretações quando utilizado para definir gênero teatral. A definição mais comum, onde todos concordam, é de um trabalho que coloca a fisicidade do artista cênico em primeiro plano no resultado estético final de uma performance, normalmente os grupos que se definem como teatro físico trabalham com texto falado em uma dramaturgia linear ou não, mas como o suporte de outras linguagens como: mímica, dança teatro, acrobacia sole e aérea, etc.
Embora estes diferentes grupos possam chamar para si o título de teatro físico, pois o resultado estético final de suas criações está baseado no movimento corporal dos artistas cênicos, alguns críticos/diretores de forma arbitrária tentam definir teatro físico como apenas uma das linhas possíveis de trabalho, normalmente a linha a qual eles conhecem bem, desmerecendo quaisquer outras formas ou estilo como parte também deste gênero, gerando mais confusões sobre o que é ou não é teatro físico.
A definição comum para Teatro físico é de um trabalho que pode se utilizar de texto, mas tem como foco principal o trabalho físico dos artistas, seus corpos seus movimentos no espaço. Um teatro extremamente visual onde a gestualidade/movimentação é o elemento primordial, colaborando ou as vezes substituindo a dramaturgia textual, também podendo substituir o cenário ou elementos cênicos pelo movimento/corpo dos artistas.
O termo teatro físico, tem sua origem na Inglaterra na década de 70 pelo ator/dramaturgo/diretor Steven Berkoff que depois de ter estudado em Paris com Jacques Lecoq e Etienne Decroux retornou a Inglaterra adaptando e dirigindo espetáculos sobre textos clássicos, explorando ao máximo a capacidade física de seus atores, a crítica inglesa na época sem saber como definir o trabalho de Berkoff, o chamou de teatro físico, o termo acabou se espalhando e também sendo apropriado por outros diretores e companhias que começaram a explorar a fisicalidade dos atores na sua atuação em contraste com o teatro extremante baseado no texto falado onde o corpo era completamente ignorado.
Teatro físico então nasceu na necessidade de definir um teatro mais visceral, vivo, em movimento, colocar o corpo como elemento tão importante é necessário como a voz, em uma época onde a maioria dos atores eram apenas repetidores de texto, isso na Inglaterra final da década de 70...
Então utilizar o termo teatro físico é necessário no Brasil 30 anos depois de sua invenção?
O teatro contemporâneo não seria em essência teatro físico?
O grande paradoxo da utilização deste termo hoje em dia é que a grande maioria dos grupos e artistas atuantes misturam linguagens diferentes, exploram possibilidades expressivas e estéticas e quase não existe mais um teatro como se fazia na Europa há 30 anos, além do corpo arquetípico Brasileiro ser muito mais ligado ao movimento e ter uma intensidade ampliada em contraste com o corpo europeu, principalmente o de três décadas atrás.
O teatro contemporâneo não é de fácil definição neste sentido, está mais liberto de estigmas e regras como acontecia, freqüentemente reinventa-se para contrapor novas perspectivas do fazer artístico, confronta novas mídias, um mundo em velocidade acelerada de informação e em constante mudança.
Mas nem toda a criação artística contemporânea pode ser definida como estética contemporânea, é difícil para muitos criadores deixar para trás antigos estigmas, o novo sempre assusta e para eles acaba sendo mais fácil apenas repetir formulas, ignorando os novos paradigmas que permeiam nossa época, do que procurar uma manifestação que englobe o momento tanto do mundo como do próprio criador, talvez para criar contraste contra esses criadores que negam a sua contemporaneidade que algumas pessoas ainda escolham usar o termo teatro físico para definir o seu trabalho.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
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